Vamos começar com um desafio?
Pare um momento. E se lhe perguntassem “Mas, afinal, o que é isso de ir ao Psicólogo?”, o que diria?
Vou tentar ajudá-lo(a) a responder a esta questão.
Ao longo da nossa vida, todos nós nos deparamos com desafios
e tarefas constantes. Em alguns momentos podemos sentir que a resposta a essas
situações se torna mais exigente. Parece que nos falta a energia para reagirmos
e enfrentarmos uma situação pontual, ou mesmo a generalidade das situações
quotidianas.
Quando nos encontramos perante uma dificuldade, geralmente
procuramos o apoio daqueles que nos estão mais próximos: familiares e amigos.
Outros preferem dedicar-se ao desporto, ouvir música, passear ou estarem
sozinhos. Todos estes comportamentos são formas naturais de reagirmos no nosso
dia-a-dia. E, se por vezes são suficientes para resolvermos aquilo que nos
incomoda e preocupa, por outras ajudam apenas a afastar temporariamente os
nossos problemas.
Volto a propor-lhe outro desafio. Pense na sua vida diária. Imagino
que já passou por uma situação semelhante: Uma sensação de frustração que o(a)
paralisa; uma discussão com alguém de quem gosta e que o(a) leva a dirigir a
sua raiva para outras pessoas; medo de tomar uma decisão importante na sua
vida; dificuldade em definir objectivos e um plano de acção para o futuro; algo
que o(a) entristeceu; a necessidade de partilhar a sua alegria e não ter quem
o(a) oiça; ou a dificuldade comum em gerir o stress da vida diária e encontrar
um equilíbrio entre a vida profissional e pessoal.
Muitas vezes, encontramos à nossa volta quem ou o que nos
apoie nestes momentos e, geralmente, passados uns minutos, umas horas, uns
dias, conseguimos regressar ao nosso “estado normal”. Mas, com certeza, também
já lhe aconteceu não ter disponibilidade temporal ou emocional para ligar a um
familiar ou amigo para desabafar e pedir um conselho. Ou, se calhar, teve essa
oportunidade mas do outro lado não recebeu o apoio que realmente precisava.
Provavelmente também já se sentiu tão cansado(a) que teve vontade de largar as
suas responsabilidades e dedicar-se a si próprio(a), para descansar e
reorganizar ideias.
Na verdade, vivemos centrados no dia-a-dia. As exigências
quotidianas, as responsabilidades profissionais, as circunstâncias económicas e
sociais, as preocupações familiares, os deveres pessoais afastam-nos, muitas
vezes, de nós mesmos, dos nossos desejos, dos nossos interesses e das nossas
necessidades. Em suma, daquilo que realmente nos importa e aumenta a nossa
qualidade de vida!
“Então, o que é isso
de ir ao psicólogo?”
Os tempos actuais estão a exigir da Psicologia respostas
inovadoras que permitam servir as reais necessidades das pessoas e acompanhar
os desafios da evolução da sociedade. Esqueçamos as imagens caricaturadas
pelos media: O divã, o terapeuta que
aconselha e critica, as consultas para “malucos” ou “depressivos” e as
conversas sobre os traumas originados na infância. A Psicologia vai muito além
das ideias pré-concebidas que a maioria das pessoas aprendeu através das
crenças antigas, dos meios de comunicação, dos filmes, dos livros ou da opinião
pública.
A Psicologia de hoje aproximou-se das pessoas e responde às
suas preocupações diárias e aos seus problemas do quotidiano. Assim, a
Psicologia tem como principal objectivo acompanhar cada pessoa num processo de
auto-conhecimento e de identificação dos seus recursos internos e
potencialidades, contribuindo para o seu desenvolvimento pessoal e para
ajudá-la a gerir melhor os acontecimentos de vida e as relações interpessoais.
Todos nós possuímos um potencial de desenvolvimento, como se
estivéssemos dotados de ferramentas e recursos internos que nos permitem
responder aos desafios, exigências e tarefas do quotidiano. No entanto, muitas
vezes, estas potencialidades estão ocultas e são-no desconhecidas, por ausência
de estímulos exteriores, do meio envolvente e/ou por falta de desejo interno de
crescimento pessoal. É como se só conhecêssemos uma parte de nós e daquilo que
somos capazes e, por essa razão, temos tantas vezes aquela sensação de que não
conseguimos fazer face às situações com que nos deparamos diariamente. Ao longo
do tempo isto leva à acumulação de sentimentos de frustração, derrota,
tristeza, cansaço e desmotivação e, em alguns casos, ao aparecimento de
problemas físicos e psicológicos mais complicados.
A consulta de Psicologia assemelha-se, então, a um ginásio,
onde pode definir objectivos, identificar dificuldades e limites pessoais e treinar
as suas capacidades, recursos e competências para os melhor utilizar no seu
dia-a-dia e caminhar no sentido de um maior bem-estar geral. Afinal, se podemos
cuidar de nós por fora, porque não fazê-lo por dentro?
Lembremos os nossos tempos de criança. Alguém teve de nos
ensinar a andar, a falar, a vestir e a fazermos a nossa higiene. Nos tempos de
escola aprendemos a ler, a escrever, a fazer contas e a estabelecer relações de
amizade. Na verdade, ao longo do nosso desenvolvimento vão-nos ensinando a
descobrir o mundo exterior, mas ninguém nos ensina a explorar o nosso mundo
interior.
Quem somos? O que
somos? O que sentimos? O que nos motiva? O que temos de melhor e pior? Como
gerir as nossas emoções? Como se interligam
corpo-emoção-pensamento-comportamento? Como gerir o dia-a-dia?, é uma aprendizagem
que cabe a cada um de nós e que vamos limando na nossa vivência diária, o
melhor que sabemos e conseguimos.
Assim, a consulta de psicologia, sustentada numa relação de
ajuda entre duas pessoas
(psicólogo e cliente) permite a explorar este lado mais interno – o nosso eu e a
nossa relação com os outros e o mundo, num processo activo de auto-conhecimento
e auto-descoberta.
O
psicólogo é uma pessoa disposta a ouvi-lo(a), a estar consigo sem julgar nem
criticar e que vai ajudá-lo(a), gradualmente, a conhecer-se melhor. Para tal, é
fundamental que se estabeleça uma relação humana de confiança e respeito,
baseada no diálogo aberto e permanente entre o psicólogo e o cliente. Todos
sabemos que, por vezes, as pessoas têm
dificuldade em assumir os seus medos, resistências e fragilidades e de falar
sobre aspectos da sua intimidade mas, ao serem ouvidas por alguém com formação
especializada e num enquadramento aceitante e confidencial, conseguem aceder ao
seu mundo interior (preocupações, medos, dúvidas...) e colocar em prática o seu
processo de crescimento e transformação pessoal, no sentido de um melhor
bem-estar e qualidade de vida.
Todo
este processo será dedicado a si e às suas necessidades e, por isso, não existe
um número pré-determinado de sessões, uma vez que se procura precisamente a
individualidade de cada pessoa. Assim, as primeiras sessões vão servir para
iniciar o estabelecimento da relação com o psicólogo e para ele conhecer a sua
história. Posteriormente, com base nas informações recolhidas e nas suas
necessidades, objectivos e expectativas vão ser explorados e trabalhado os
aspectos mais importantes da sua experiência.
Assim,
no espaço terapêutico terá um momento exclusivamente seu, onde o psicólogo,
através de diálogo, técnicas e exercícios de auto-reflexão e auto-conhecimento específicos,
vai ajudá-lo(a) a conhecer-se melhor e a desenvolver o seu potencial humano,
para aprender a viver o melhor possível com as situações da vida diária. A Psicologia é, então, um guia orientador e positivo
na procura do equilíbrio e bem-estar individuais e no melhor estabelecimento de
relações com o exterior.
Termino, deixando-lhe um último desafio. Quando lhe
perguntarem “Mas, afinal, o que é isso de
ir ao Psicólogo?”, já sabe, só tem de descomplicar
a Psicologia!
Ana Correia
Psicóloga Clínica da Clínica FisioFalantes